GUIA DE PERGUNTAS FREQUENTES


Olá, blogueiros e jornalistas. Saudações literárias. Bem-vindo ao guia de perguntas frequentes, onde reúno os principais questionamentos que surgem em entrevistas, debates e bate-papos.

Esta página foi criada com o objetivo de agilizar o nosso trabalho (tanto o meu quanto o seu). Se você tem perguntas que se enquadrem nas respostas abaixo, fique à vontade para copiá-las e usá-las em suas páginas, trabalhos ou blogs. Caso não encontre as respostas para suas perguntas, basta me escrever por email (eduardospohr@gmail.com) que eu terei o maior prazer em retorná-las :-)

1) Quais foram os livros que mais marcaram a sua infância?

R: O meu colégio adotava o sistema de rodízio. O professor incentivava cada aluno a trazer à sala de aula o seu livro favorito. As obras eram expostas para a turma e você escolhia o título que mais lhe interessasse. Desse jeito, foi fácil pegar o gosto pela leitura. Não me lembro de todos os livros que li na infância, mas me recordo claramente de alguns da série Vaga-Lume, como “O Caso da Borboleta Atíria” e “Spharion”. Por conta própria, lia alguns volumes que tinha em casa, como “O Menino Maluquinho” e a série “O Pequeno Vampiro”.

2) Como você conheceu a literatura adulta?

R: Ingressei na literatura adulta por meio do RPG (role-playing game, ou jogos de interpretação de papéis). Para criar minhas histórias, precisei ler livros de fantasia como “O Senhor dos Anéis” e a série “Crônicas de Dragonlance”. Os jogos de terror e suspense me levaram a obras clássicas como “Drácula”. Conheci nessa mesma época a coleção do Sherlock Holmes, os contos do H.P. Lovecraft e o trabalho de Robert E. Howard.

3) E quais são as suas obras literárias favoritas?

R: É muito difícil fazer uma lista de obras favoritas (afinal, são muitas), mas eu destacaria “1984”, de George Orwell (talvez o romance mais importante do século XX); “Xógum”, de James Clavell (livro icônico, responsável por reascender, no ocidente, o interesse pela cultura japonesa); “Lúcio Flávio - o Passageiro da Agonia”, de José Louzeiro (livro-reportagem sobre  o "bandido dos olhos verdes", que aterrorizou a sociedade carioca nos anos 70); “Entrevista com o Vampiro”, de Anne Rice (pela primeira vez o vampiro aparece como protagonista); “O Iluminado”, de Stephen King (unanimidade quando o assunto é terror); “O Rei do Inverno” de Bernard Cornwell (obra-prima do escritor britânico); “Os Pilares da Terra”, de Ken Follet (um retrato cru e perturbador da Inglaterra medieval); “O Exorcista”, de William Peter Blatty (tão bom quanto o filme); e “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J. D. Salinger (um tesouro da prosa).

4) Como e quando você decidiu se tornar escritor?

R: Não sei se foi algo que eu tenha realmente decidido. Muito menos foi de uma hora para outra. Penso que foi um caminho natural -- e gradual. Sempre gostei de escrever. Minha primeira aventura nessa área foi uma HQ, aos 6 anos de idade, sobre um extraterrestre, claramente inspirada no filme "E.T.", de 1982. Como era péssimo desenhista, só me restavam os textos como veículo para eu contar as minhas histórias. Durante a infância e adolescência escrevi muito e de tudo (contos, novelas, romances), primeiro em cadernos espirais, com caneta esferográfica, e depois na máquina de escrever. Tudo era muito ruim (hahahaha), mas pelo menos me ajudou a treinar a minha prosa. Serviu com experiência.

5) Como conheceu a turma do Jovem Nerd?

R: Conheci o Deive (Azaghal) e o Alexandre (Jovem Nerd) mais ou menos na mesma época, no começo da faculdade. Quando criança, eu estudara no colégio com o Andrés Ramos (Amigo Imaginário) e com o Caio Boiteux (Bluehand). Após o vestibular, fui para a PUC-Rio e o Andrés foi cursar desenho industrial na finada Faculdade da Cidade, em Ipanema. Continuamos amigos e às vezes eu ia visitá-lo por lá. Numa dessas, ele me apresentou o Alexandre e o Deive, então seus colegas de curso.

6) Como surgiu o convite para participar do NerdCast?

R: De forma totalmente casual. Eu estava na casa do Deive e ele me chamou para gravar um “Nerdconnection”. Gravamos literalmente no fundo do quintal da casa dele. Se eu não me engano, foi o NerdCast 13, sobre Google. Confira aqui.

7) Como foi o processo de elaboração do universo presente nos quatro livros da tetralogia angélica?

R: Começou justamente através do RPG. Na época nós (eu e meu grupo) jogávamos no Mundo das Trevas, uma ambientação de RPG que incluía vampiros, lobisomens, fantasmas e magos. Depois que assistimos ao filme “Anjos Rebeldes” (1995), ficamos com vontade de jogar com anjos e demônios, mas não existia regras para tal, então nós a criamos. Inventamos muitos personagens e situações. Eu peguei esses fragmentos e os costurei no meu primeiro livro publicado: “A Batalha do Apocalipse”. Portanto, vale lembrar, esse universo nasceu de uma criação coletiva. No Desconstruindo 15 (podcast do meu blog) falo melhor sobre isso.

8) Quais obras você aprontaria como suas principais influências para desenvolver esse universo?

R: Duas em especial são as principais: a série de filmes “Anjos Rebeldes” e os quadrinhos da Vertigo (DC Comics), como Hellblazer, Preacher, Sandman e Livros da Magia. É claro que, além disso, eu tive muitas influências, de várias mídias. Por exemplo, as lutas angélicas foram certamente inspiradas no anime “Cavaleiros de Zodíaco”. Os monstros dimensionais tem alguma coisa de Lovecraft e a questão imortalidade dos personagens sem dúvida veio dos livros da Anne Rice. A miscelânea de entidades e deuses nasceu a partir da leitura dos romances de Neil Gaiman. Mas há muito mais referências, que seriam impossíveis ser citadas todas aqui.

7) Conte-nos como foi a trajetória para publicar seu primeiro livro.

R: Terminei de escrever “A Batalha do Apocalipse” em março de 2005 e decidi enviar o original para as editoras. Para causar uma boa impressão, rodei 30 exemplares em formato de livro mesmo (com capa e miolo) em uma gráfica que imprimia pequenas tiragens: a Fábrica de Livros do Senai, no Rio. Na época, a Fábrica estava com um concurso: era preciso deixar três exemplares para avaliação e o vencedor ganharia 100 livros produzidos por eles. Eu tinha pouco dinheiro e não poderia dispensar três livros dos 30 que tinha pagado, mas mesmo assim resolvi arriscar e acabei premiado. Esses primeiros 100 livros (adquiridos a custo zero) foram comercializados em 2007 pela NerdStore, a recém-inaugurada loja virtual do site Jovem Nerd. As cópias venderam todas muito rapidamente, e usamos o dinheiro para produzir mais 500 livros, que também foram vendidos em menos de 2 meses.

A jornada não acabou por aí. Tendo vendido, em setembro de 2007, 600 cópias pela internet, eu achava que tinha um grande case (rsrsrsrs), e tentei vender a ideia para as editoras, mas nenhuma se interessou, nem as pequenas. Foi só em 2009, quando fizemos uma segunda tiragem de “A Batalha do Apocalipse” pela NerdStore (agora produzindo 4.000 cópias), que a repercussão nas redes sociais chamou a atenção da editora Verus, que recentemente fora comprada pelo Grupo Editorial Record. Tive uma reunião com a Raissa Castro, que até hoje é minha editora, e assinamos o contrato. Em 2010, enfim, “A Batalha do Apocalipse” foi lançada pelo Grupo Editorial Record e distribuída nas livrarias de todo o Brasil.

8) SPOILER. Ainda sobre “A Batalha do Apocalipse”, você optou por deixar o final aberto. Por que?

R: Essa é uma questão complexa. Para entender o desfecho de "A Batalha do Apocalipse", é preciso, antes, compreender a questão do livre-arbítrio, tema que é colocado intensamente nas três partes. O romance fala sobre essa ideia de que cada um de nós construímos o nosso destino, da primeira à última página. O diálogo entre Ablon e Gabriel, em especial, é o mais significativo neste ponto. Assim, tentei fazer, no final, algo coerente. A história fecha, mas deixa a bola nas nossas mãos, seres humanos, os únicos que podem mudar o mundo. Essa é a mensagem do livro em branco, no final. Cada um constrói o seu próprio caminho. Se não houvesse aquele final, a obra toda simplesmente não teria sentido.

Dar uma resposta clara seria contrariar o que foi exposto durante toda a narrativa. Gabriel diz a Ablon que homens e anjos se alimentam da utopia que seria a existência de Deus, enquanto Deus está, na verdade, dentro de nós. Só nós mesmos podemos reger o nosso futuro. Às vezes isso irrita. Às vezes é desagradável, em nossas vidas, sermos obrigados a fazer certas escolhas. Mas é assim que a vida é. Da mesma forma, eu, como autor, não podia dar essa resposta. É cada leitor que deve encontrá-la. Este é o simbolismo do epílogo de "A Batalha do Apocalipse".

9) Depois de “A Batalha” veio a trilogia Filhos do Éden. O que o motivou a continuar a escrever nesse universo?

R: Eu sempre disse, desde a minha primeira entrevista, no NerdCast 80, que a história de "A Batalha do Apocalipse" se encerrava ali e não teria continuação. Contudo, o universo apresentado no livro podia gerar muitas permutações. Vários aspectos poderiam ser mais bem explorados, e eu sinceramente queria muito escrever sobre eles. “Herdeiros de Atlântida”, por exemplo, fala sobre as cidades perdidas, devastadas com o dilúvio e os cataclismos de outrora. “Anjos da Morte” conta a história das guerras do século XX sob a perspectiva angélica e “Paraíso Perdido” se foca, dentre outras coisas, nos espíritos etéreos, chamados pelos homens de “deuses pagãos”.

10) Quase na mesma época do lançamento de “Herdeiros de Atlântida” você lançou, pela NerdStore, o “Protocolo Bluehand: Alienígenas”. Conte-nos sobre a história da publicação dessa obra.

R: O Alexandre e o Deive (do Jovem Nerd) tinham essa ideia de escrever alguns manuais práticos de sobrevivência, recheados de humor, nos moldes do livro "Guia de Sobrevivência aos Zumbis", de Max Brooks. Eu sugeri que começássemos não com zumbis, mas com alienígenas, para que pudéssemos, justamente, encontrar um modelo próprio. Eles toparam e comecei a escrever. Como eu era entusiasta de OVNIs na infância e conhecia um bocado a respeito, fiz mais algumas pesquisas e entreguei o texto rapidamente. "Protocolo Bluehand: Alienígenas" é uma obra pela qual eu tenho muito carinho, pois me transportou de volta aos meus 10 anos de idade, ao meu tempo de “caçador de E.T.s”.

11) Qual é a importância da capa para um livro? Conte um pouco sobre a história das capas de seus livros.

R: Às vezes a gente acaba se interessando por um livro pela capa. É normal, apesar de o ditado popular sugerir o contrário. Em 2005, na época da Fábrica de Livros (ver questão 7), pedi ao Andrés Ramos que elaborasse uma capa provisória para "A Batalha do Apocalipse". Ele encontrou uma imagem incrível na internet e diagramou essa primeira versão. Nesse ponto (importante lembrar), o romance não estava sendo comercializado, então eu não precisava pagar ninguém, pois não tinha fins lucrativos. Mais tarde, em 2007, quando a gente começou a vender "A Batalha" pela NerdStore, eu pensei "poxa, temos que pagar o artista!". Procurando na internet acabei achando o email do ilustrador, um alemão que na época morava no Canadá. Escrevi para ele e obtive resposta. Pedi para usar a imagem. Assim nos conhecemos e ele acabou sendo responsável pelas capas da série Filhos do Éden também.

12) O que há de novo em "Filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida" (2011) em relação a "A Batalha do Apocalipse" (2005-2010)? 

R: Em "A Batalha do Apocalipse" eu escrevi sobre personagens épicos, muito poderosos, seres antigos e inalcançáveis, que vivem bilhões de anos. Para dar essa sensação de afastamento eu, propositalmente, tive de torná-los mais duros, às vezes até mais frios. Toda a trilogia Filhos do Éden veio, então, com a proposta de apresentar personagens mais humanos. Para isso, criei certas desculpas associadas ao enredo. Por exemplo, a protagonista, Kaira, é um anjo do fogo que perdeu a memória, e acredita ser uma moça comum. Denyel é um anjo guerreiro que foi ordenado por seus líderes a se misturar com os seres humanos, de modo a estudá-los e observá-los, o que o tornou mais bem mais humano também.

13) No segundo livro da trilogia -- "Filhos do Éden: Anjos da Morte" -- temos como plano de fundo as guerras do século XX. Como foi o processo de pesquisa para escrever essa obra?

R: Há três níveis de pesquisa, ao meu ver. O primeiro nível, o mais raso, é pela internet. Os verbetes da Wikipédia nos fornecem uma visão geral da coisa. É um ótimo ponto de partida. De lá, seguimos para a leitura de livros, o que nos dá uma perspectiva mais ampla. Em seguida, se for possível, é interessante tentar visitar o local. Eu não diria que a pesquisa in loco é essencial -- escrevi sobre Israel em A Batalha do Apocalipse e nunca estive lá, por exemplo --, mas ajuda bastante.

A pesquisa, no meu entender, traz uma emoção especial ao romance. Os sítios históricos na Normandia (França, palco da Segunda Guerra Mundial) me fizeram compreender a sensação de estar lá, de fato, dentro de um bunker, durante a invasão do Dia D. Em outro momento, os personagens vão para Amsterdã (na Holanda), uma cidade peculiar, onde as pessoas te tratam de um jeito muito especial.

14) "Paraíso Perdido", além de finalizar a série Filhos do Éden, é também uma conexão entre esta saga e seu primeiro livro, "A Batalha do Apocalipse". Este era o seu objetivo desde que começou a escrever "Herdeiros de Atlântica" ou foi algo que surgiu com o tempo?

R: Sempre foi o meu objetivo. Eu não consigo absolutamente começar a escrever um romance sem saber como ele vai terminar. Claro que os detalhes são pensados adiante, às vezes na hora, mas a coluna vertebral da história segue sendo a mesma desde que eu a concebi, ao final de "A Batalha".

O capítulo extra “MTRN” -- publicado pela primeira vez na edição especial de "A Batalha do Apocalipse" e que pode ser lido gratuitamente no meu blog, o Filosofia Nerd -- é a prova de que eu tinha tudo traçado desde muito tempo.

15) Seu público, além de extremamente fiel, vai desde adolescentes até uma faixa etária mais madura. A que você atribui este sucesso e como é o seu relacionamento com os fãs?

R: No começo, na época da publicação de "A Batalha do Apocalipse" pelo Jovem Nerd, os meus leitores eram basicamente homens entre 16 e 35 anos, pois esse era o público do site, então. Em 2010, quando o romance chegou às livrarias pela Verus, esse nicho foi ampliado, atingindo pessoas das mais diversas idades. Em seguida, com a inclusão das minhas obras no catálogo da Avon, homens e mulheres das classes menos favorecidas também tiveram acesso aos meus livros, pois a Avon chega em cidades muito pequenas, onde não há uma livraria sequer.

O que proporcionou essa diversidade de público, ao meu ver, foi esse acesso mais fácil às minhas obras, mas também gosto de pensar que as histórias que escrevo são capazes de tocar qualquer um que esteja disposto a escutá-las. Pelo menos, é isso o que eu tenho em mente ao escrever: tento abordar, através das mitologias, aspectos que sejam comuns e universais, temáticas que apesar da sua “capa” fantástica possam ser entendidas e vivenciadas por todos.

16) Ao todo, foram dez anos imerso neste universo de Batalha do apocalipse e Filhos do Éden. O que mudou no Eduardo Spohr como escritor neste tempo?

R: Como escritor, eu procurei e sempre procuro me instruir e estudar. No passado, como era um escritor amador, eu apenas escrevia, sem muita preocupação com a forma. Hoje estou cada vez mais preocupado não só com a história, mas como a prosa, isto é, com a maneira como eu escrevo, sempre tentando tornar o texto mais claro e acessível ao leitor.

Leio constantemente livros sobre técnicas de escrita, procuro ir a seminários e aprender com outros escritores. Meu sonho é, quem sabe no futuro, conseguir escrever um capítulo, por exemplo, de uma tacada só. Hoje em dia eu reviso pelo menos umas vinte vezes as minhas obras, até que elas fiquem minimamente razoáveis (risos).

17) Como você vê o mercado literário no Brasil hoje?

R: Melhor do que nunca. O curioso é que a internet, em vez de afastar as pessoas dos livros, acabaram por aproximá-las do hábito da leitura. Blogs literários, redes sociais especializadas (como o Skoob) e mesmo as comunidades sobre livros nas redes sociais comuns estão reunindo pessoas e divulgando obras. E eu espero que o interesse pela literatura cresça cada vez mais.

18) Muitos dizem que o brasileiro não lê. Você concorda?

R: É preciso separar as coisas. De fato no Brasil nós temos um problema crônico de educação. É inadmissível que ainda existam analfabetos no país, mas eles existem e não são poucos. Então, de um modo geral, o Brasil lê menos que outros países mais ricos. Entretanto, dentro da parcela de pessoas que leem, o interesse pela literatura está aumentando muito, talvez pelos motivos citados anteriormente (questão 17). Portanto, é verdade que o brasileiro lê pouco, mas é verdade também que está lendo cada vez mais.

19) É difícil ser escritor no Brasil e viver disso?

R: Tão difícil quanto qualquer outra profissão. Não é fácil ser professor no Brasil, engenheiro, advogado, ator, policial, etc, etc, etc. Para se conseguir sucesso em qualquer área é preciso ralar muito, e no caso do escritor não é diferente. Eu acho curioso que as pessoas ficam frustradas porque estão no mercado há dois, três anos e não conseguiram emplacar suas obras. Um médico, por exemplo, precisa cursar ao menos 4 anos de faculdade e 2 de residência, para só então começar a trabalhar. Escrever é uma profissão séria que, como todas as outras, requer tempo, investimento e muita dedicação.

20) Como é o seu dia a dia?

R: Trabalho 8 horas por dia. Às vezes mais (dependendo do prazo). No sábado, um pouco menos. Geralmente, acordo por volta das 8 horas, vou à academia e começo a escrever quando chego em casa, lá pelas 11 horas. Paro para almoçar, retomo e vou até as 21 horas, mais ou menos.

21) Como você faz para evitar os famosos “bloqueios criativos”?

R: Eu elaboro um roteiro detalhado do livro antes mesmo de começar a escrever. Sabendo tudo o que vai acontecer na história, eu não nunca fico sem ideias. Em outras palavras, tenho a história pronta, basta colocar a mão na massa. Claro que eu posso mudar algumas coisas ao longo do caminho, mas o roteiro funciona como um mapa, impedindo que eu me perca. Depois que comecei a trabalhar assim, nunca mais tive bloqueios. Mas é importante destacar que esse é apenas o meu método. Não tenho a pretensão de dizer o que é certo ou errado. Cada um deve encontrar sua trilha.

22) Muitas vezes, os autores simplesmente ficam sem inspiração. No seu caso, o que você faz para que consiga se inspirar e continuar?

R: Não acredito que exista inspiração. Existe trabalho. Você trabalhando, as soluções e ideias vem, e não o contrário.

23) Se a inspiração não existe, então quais as principais técnicas ou ações que você adota para estimular sua criatividade como escritor?

R: Penso que todo artista deve manter as antenas ligadas. Todos os aspectos da vida, assim como as pessoas, os lugares por onde você passa e até os nossos próprios conflitos e conquistas servem como material literário. Também creio ser importante, no caso específico de um escritor, escrever sempre, todo o dia; nunca perder o contato com a escrita -- sobretudo quando estiver trabalhando em um texto, em um conto, romance, novela, roteiro, etc. Finalmente, ao desenvolver um projeto em especial, é necessário correr atrás de referências. A pesquisa é um dos melhores combustíveis. Você vai pesquisando e descobrindo coisas incríveis. O difícil é, justamente, saber a hora de parar.

24) Diante disso, quais as dicas que você daria para quem deseja ser escritor?

R: No meu blog, o Filosofia Nerd, fiz um post onde reúno uma série de opiniões de escritores, nacionais e internacionais, inclusive os meus próprios conselhos sobre o assunto (se é que eu posso dar algum). O texto pode ser acessado aqui. Mas, de qualquer maneira, acho que a primeira dica (que todos podem concordar) é escrever sempre, nem que seja um pouquinho a cada dia. Separe uma horinha para se dedicar aos seus textos. Só treinando a gente aprimora o nosso trabalho. Com o livro pronto e escrito, é preciso fazer com que ele seja conhecido e lido. Além da tradicional busca por editoras, hoje temos muitos caminhos para a publicação, desde a produção independente até as ferramentas eletrônicas. 

25) Você acredita nas coisas que escreve?

R: O que está nos meus livros é ficção, unicamente. Não é para as pessoas acreditarem ao pé da letra. Mas eu acredito na metáfora. Por exemplo, como o Paraíso sendo a nossa inclinação para o bem e o Inferno, para o mal. Nesse ponto (metafórico), creio que a história faz mais sentido.

26) E quais são as suas crenças pessoais?

R: Como muitos já sabem, fui criado em uma escola de orientação católica, no Rio de Janeiro (o Externato São Patrício, que não existe mais). Costumava ter aulas de ciências e religião, uma após a outra, cada qual com visões diferentes sobre o mundo. Então, desde muito pequeno, eu comecei a me questionar sobre os mistérios do universo. Quem estava certo? Quem estava errado? Será que os dois estavam certos? Será que ambos estavam errados? Hoje, me considero um cético. Embora o conceito da palavra tenta sido deturpado no entendimento popular, o cético não é aquele que não acredita em nada, mas que duvida de tudo, que se questiona sobre tudo. Essa é a minha filosofia de vida. Me questionar sobre as coisas, se ter a pretensão de decretar uma verdade absoluta. Não tenho respostas, apenas perguntas. E é justamente esse mistério que me move. Ciência, religião, artes, mitologia, antropologia... todos esses campos são para mim igualmente intrigantes, fascinantes e maravilhosos. 

27) Já surgiu alguma proposta para transformar os seus livros em filmes ou séries?

R: Nunca. Mas quem sabe um dia. Seria bacana, né?

28) Além de escritor, você também ministra o curso “Estrutura Literária - a Jornada do Herói no Cinema e na Literatura”, nas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), no Rio. Fale-nos sobre essa atividade. surgiu alguma proposta para transformar os seus livros em filmes ou séries?

R: Na verdade trata-se de um curso de extensão, com duração de três meses. Tem algum tempo que não ministro, quero voltar logo. Adoro dar aula e ter contato com os alunos. Aprendo mais com eles do que eles comigo. Além dessa interação com pessoas que estão na mesma sintonia que você, o curso tem o objetivo de ensinar aos participantes uma determinada técnica literária que pode (ou não) ser usada na elaboração de textos, sejam eles literários, cinematográficos, de quadrinhos, etc. Essa técnica é apresentada no livro “A Jornada do Escritor”, de Christopher Vogler, tendo sido desenvolvida a partir dos estudos do acadêmico Joseph Campbell.

29) Quais são os seus próximos projetos?

R: Estamos trabalhando agora nas aventuras de RPG de Filhos do Éden / A Batalha do Apocalipse, que serão disponibilizadas online, em PDF. Mesmo para quem não joga, será interessante ler, porque terá muita informação sobre o cenário. E todo o material será gratuito!

EM TEMPO: saiba mais sobre a minha filosofia de trabalho escutando os podcasts:  

» Nerdcast 215. Eu e o Yabu falamos sobre técnicas de criação e publicação
» Papo na Estante 21. Destrinchando a famosa Jornada do Herói 
» Cabuloso Cast 31. Bate-papo sobre estruturação da trama, com Eric Novello
» Geek Talk. Método de trabalho e preparação de originais. Clique aqui para baixar
» Iradex 06. Ferramentas motivacionais, críticas e ações pós-publicação.
» PnE 04. Interação com o público e pesquisas históricas para livros.
» NerdCast 379. Postura profissional, pró-atividade e busca por editoras.
» DS 12. Escrita Criativa, com L. E. Matta, Leonel Caldela e Affonso Solano.
» DS 16. Escrita Criativa # 2, com Eric Novello, Ronize Aline, Marcelo Amaral.

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