quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Para quê servem os mitos?


Matrix - Neo encontra o Oráculo: "há uma diferença entre conhecer o caminho e trilhar o caminho"

Para quê servem os mitos - comentários em áudio - 01:25 by eduardospohr
No post anterior, pegamos carona na erudição de Joseph Campbell para discutir como surgem os mitos. Hoje, continuaremos imersos nos ensinamentos do simbologista para entender:

PARA QUÊ SERVEM OS MITOS?

Já vimos que os mitos são conjuntos de metáforas e códigos usados para expressar, de forma simbólica, os mais profundos medos, conflitos e desejos humanos.

Símbolos e códigos existem justamente para serem decodificados. A grande jogada é que cada um decodifica à sua própria maneira. Isso é relevante porque o verdadeiro significado daquela mensagem transcende a palavra. O seu estado emocional, índole e personalidade vão determinar como a mensagem é traduzida.

Star Wars - O vilão é geralmente aquele que tomou as decisões erradas.

Guias de viagem - Os mitos servem como diários de viagem, que nos mostram os caminhos que outras pessoas percorreram para superar os inevitáveis traumas e triunfos da vida. Se você souber interpretar essas dicas, terá mais facilidade de lidar com suas próprias perdas e sucessos – e agir corretamente como um ser humano em sociedade.

HERÓIS COMO MODELOS

Você já se deparou com uma situação difícil que te fez lembrar uma cena de filme, ou um trecho de livro? Melhor: decisões ou ações tomadas por um personagem já te ajudaram a encontrar a solução para algum impasse?

Isso acontece comigo direto. Luke Skywalker foi um exemplo durante a minha adolescência; as decisões do capitão Kirk me auxiliaram a resolver problemas com a minha equipe de trabalho; Neo me ensinou que “eu escolho o meu próprio destino”.

Star Trek - Capitão Kirk na ponte da Enterprise: como liderar uma equipe
A idéia é essa - A função dos mitos é fornecer modelos às pessoas, apresentando situações que inevitavelmente surgirão em nossas vidas, e sugerindo soluções. Como o herói vai agir? O que ele vai fazer? Qual o ensinamento que podemos tirar disso? E o vilão? Como NÃO devemos agir e o que NÃO devemos fazer? Quais são as conseqüências?

MITOS HOJE

No passado, aqueles que compilavam e registravam os mitos eram geralmente os sacerdotes, xamãs ou místicos. É claro, já havia artistas, sempre houve, mas um mito não é simplesmente uma história: ele tem que estar perfeitamente sintonizado com os anseios da sociedade em questão.

Hoje, o curioso é que em muitos casos esse papel se inverte. Vários mitos, especialmente na religião, permanecem estáticos e ultrapassados – não se reinventaram aos novos tempos, e por isso perderam muito de sua capacidade de se comunicar com as novas gerações.

Gladiador - Guerreiros sobrevivem porque lutam unidos.
Por outro lado, as obras literárias e cinematográficas, em constante mudança e adaptação, por vezes tocam o público de forma ainda mais profunda, mesmo quando todos sabem que aquela é tão somente uma obra de ficção.

O que nos faz refletir - o que realmente vale? A veracidade do mito ou o significado da mensagem que ele passa?

» Leia o post anterior: “Como surgem os mitos”



O Império Contra-Ataca - Luke se recusa a juntar-se ao mal, mesmo diante da morte

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A polêmica envolvendo a campanha #inconfundível – “publicidade velada”?

Site do Club Social. Imagem: reprodução

O assunto deste finalzinho de semana na web foi a campanha do Club Social, proposta por uma agência de publicidade a alguns twitteiros do Brasil, que se comprometeram a anexar a tag #inconfundível a um de seus posts diários, indicando um link ou uma informação que julgavam ser interessante.

A polêmica começou na quarta-feira, quando o jornalista Mauricio Stycer, do iG, publicou uma matéria (leia aqui) acusando os twitteiros de promover o que chamou de “publicidade velada”. Para ele, seria antiético divulgar a campanha sem deixar claro que se tratava de uma ação ligada ao biscoito.

Sou jornalista, editor de um grande portal de notícias, além de blogueiro e twitteiro. Então, acho que entendo um pouco os dois lados, daí a vontade de escrever este post.

JOGANDO LIMPO

O Mauricio tem todo o direito de expressar a sua opinião. Como jornalista, eu defendo e sempre defenderei a liberdade de imprensa, e apóio quem a exercite. A única falha aí, acredito eu, foi a falta de uma apuração cautelosa dos fatos.

Bom, para quem não sabe, muitos daqueles que participaram da ação tiveram o cuidado de explicar, na primeira vez em que postaram a tag, que aquilo tratava-se de uma campanha publicitária. Só isso, ao meu ver, já desmonta todo o argumento de “publicidade velada”.

“Assim como a Baunilha (Bruna Calheiros, blogueira), deixamos claro desde o primeiro momento que estávamos divulgando a campanha do Club Social. Nosso primeiro post explicou isso. Jogamos limpo com os nossos seguidores”, explica Alexandre Ottoni, do site Jovem Nerd.

Mas, tudo bem. Como eu disse, o Mauricio Stycer está livre para concordar, discordar, comentar e criticar – até porque tratava-se de uma matéria opinativa.

Escolha de palavras - Ao ler o texto, me lembrei das minhas aulas de “Introdução ao Jornalismo”, na PUC, ministradas pelo professor e jornalista Israel Tabak (esse sim era inconfundível). Ele mostrava como a simples escolha de palavras pode influenciar todo um texto. Tabak usava o exemplo clássico de dois jornais que publicaram a mesma notícia sobre o Movimento Sem-Terra. O jornal #1 dizia: “MST ocupa fazenda”; o #2 avisava: “MST INVADE fazenda”.

Da mesma forma, é curioso ver como a escolha de palavras no texto do Maurício expõe sua opinião. Num trecho notório, ele diz: “Cada um tem a obrigação de escrever dois tweets por semana (...)”, enquanto poderia escrever: “Cada um tem o COMPROMISSO de escrever dois tweets por semana”. Muda tudo.

MINHA OPINIÃO

Pessoalmente, não vejo problema algum em um twitteiro usar sua imagem em uma campanha de comunicação. Se fosse assim, teríamos que condenar também todos os milhares de artistas e atletas que emprestam suas caras a comerciais de TV.

A questão da “publicidade velada”, cujo conceito, vale repetir, não concordo, também não me incomoda.

A internet deu aos consumidores o livre-arbítrio total de procurar, eles mesmos, seu conteúdo. Não é como antigamente, quando você tinha que engolir, toda a noite, 30 segundos de reclame dos Cobertores Paraíba, nos intervalos da novela das 8h. Na web, é o usuário que procura o conteúdo e, por conseqüência, absorve a publicidade de forma consciente.

Unfollow e block - Um exemplo. Se você segue a famosa Twittess, que aliás também é citada na matéria, está sujeito a receber um monte de propagandas e baboseiras. Mas se o cara gosta, bom pra ele. Se não gostar, é simples: dá unfollow ou block.

Portanto, acredito que, MESMO que tivesse havido uma publicidade velada, isso não seria passível de condenação ou muito menos de “denúncia”. Afinal, os maiores prejudicados seriam os próprios twitteiros, que estariam sujeitos a perder seguidores, leitores, admiradores ou como queiram chamar.

E, pelo visto, não foi o que aconteceu. A campanha deu certo, e o texto do Maurício teve o efeito óbvio de qualquer polêmica: acabou gerando ainda mais repercussão para a marca.

Pessoal, desculpem aí pelo off topic, afinal este blog geralmente se propõe a apresentar textos mais lúdicos: sobre cinema, literatura e filosofia. Mas concluí que o assunto era relevante a muitos de meus leitores.

Espero ter contribuído positivamente para a discussão.





Comercial dos Cobertores Paraíba - clássico reclame dos anos 60


» Leia também: Post sobre a polêmica no “NãoZero”

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Como surgem os mitos?

Star Wars, clara influência das obras de Campbell
Quem acompanha o NerdCast já deve ter ouvido eu falar várias vezes sobre a fascinante obra de Joseph Campbell.

O norte-americano Joseph Campbell (1904 – 1987) é considerado até hoje uma das maiores autoridades em religião comparada que já existiu. A famosa entrevista que ele deu ao jornalista Bill Moyers um ano antes de morrer – “O Poder do Mito” - acabou virando uma série para a TV e ajudou a difundir e popularizar o interesse por símbolos e mitologia.


Como surgem os mitos? - tutorial em áudio by eduardospohr


Um dos mais aplicados alunos de Campbell foi o cineasta George Lucas, que usou os padrões da Jornada do Herói, sintetizada no livro “O Herói de Mil Faces”, para delinear sua saga galáctica. Se não fosse Campbell, possivelmente “Guerra nas Estrelas” nunca teria existido, ou então seria bem diferente.
Campbell com a esposa, Jean Erdman, e a antropóloga Joan Halifax, na década de 80.
Há muito que falar sobre os escritos de Joseph Campbell, e certamente voltarei ao assunto em outros posts. Hoje, vamos começar pelo básico, e usar as palavras do acadêmico para entender:

O QUE SÃO OS MITOS?

Você já sonhou que estava caindo? Ou que estava voando? Ou que estava se afogando? Ou que caminhava pelado pelo colégio? Normal. Todos nós já tivemos sonhos assim.

Como Freud, Jung e o próprio Campbell nos mostram, a psique humana é constantemente sacudida por uma série de medos, conflitos e desejos. Algumas questões são puramente individuais; outras são partilhadas por vários membros de uma determinada sociedade; e há ainda aquelas comuns a todos os seres humanos.

Freud: interpretação dos sonhos
Quando sonhamos, essas energias em conflito continuam se expressando. Mas sem a barreira do consciente para censurá-las e organizá-las, a coisa vêm à tona de forma simbólica.
O que vemos num sonho não é a realidade, e sim uma tentativa do inconsciente de expressar a realidade por meio de símbolos e metáforas. Assim, sonhar que está caindo pode significar que algo na sua vida o está impedindo de prosseguir em um determinado objetivo. O que está ocasionando isso depende de pessoa pra pessoa.

MAS O QUE ISSO TEM A VER COM OS MITOS?
No caso dos mitos, acontece exatamente a mesma coisa. Os mitos são sonhos coletivos, são conflitos e questões partilhados por todos os membros daquela sociedade, e que precisam se expressar de forma simbólica.

Segundo Campbell, os sonhos são mitos individuais – os mitos são sonhos coletivos.
Salvador Dali: símbolos individuais
Na antiguidade e nas culturas primitivas de hoje, os mitos são organizados e difundidos por homens e mulheres especiais, que têm a sensibilidade de compreender os anseios da sociedade em que vivem.

Esses sonhos, esses desejos comuns a todos daquele grupo, são sintetizados em um determinado conjunto de símbolos e metáforas - denominados mitos.

ELEMENTOS UNIVERSAIS

Não é à toa que ainda hoje muitos mitos antigos permaneçam úteis e compreensíveis para nós. Várias dessas histórias ancestrais carregam idéias elementares, ou seja, idéias comuns a todos os seres humanos, não importa a raça, credo, religião ou camada social.

Um desses padrões universais é a célebre Jornada do Herói, que já falamos acima e que merece um post à parte. Por enquanto, ficamos com os dizeres do simbologista, em um dos trechos do vídeo "O Poder do Mito", em que ele fala sobre o papel dos artistas como construtores de mitos na civilização atual.


sábado, 1 de agosto de 2009

Nova edição de ‘A Batalha do Apocalipse’ volta à NerdStore em poucos meses. Quer participar?



Caros leitores,

O blog está em recesso por uma semana. Mas é por uma boa casa. Estou trabalhando arduamente na revisão do livro “A Batalha do Apocalipse”. Para quem ainda não sabe, o romance volta à Nerdstore em poucos meses.

É claro que nenhuma mudança drástica será feita no texto, muito menos na história (podem ficar tranquilos). A ideia é consertar desde possíveis erros de português / digitação até ajustar o documento para tornar a leitura mais dinâmica e interessante.

Uma crítica bem construtiva que eu recebi de diversas pessoas foi a excessiva repetição de conceitos. Termos como “O Tecido da Realidade” e “A Fortaleza de Sion” (só para citar alguns) eram explicados cada vez que mencionados.

Na nova edição, vou enxugar essas explanações. Para o leitor não ficar perdido, porém, incluiremos um glossário (idéia do Azaghal), bem ao estilo “Silmarillion”. Ali, estarão incluídos TODOS os termos do livro, bem como seus personagens e páginas de referência. Veja a print abaixo.

Da mesma forma, trechos excluídos na primeira edição estarão de volta agora, especialmente partes relevantes da batalha final.

QUER PARTICIPAR?

Se você já leu “A Batalha do Apocalipse” e tem críticas construtivas a fazer, esta é a hora! Estou analisando as opiniões de cada leitor.

Mande um email para mim (eduardo.spohr@gmail.com) ou opine aí mesmo, nos comentários.

E aguardem que, como eu disse, o livro retorna brevemente à loja do site Jovem Nerd, juntamente com outras atrações ligadas ao universo. Para não perder as últimas atualizações, fique ligado no meu Twitter (@eduardospohr), no da NerdStore (@nerdstore) e no NerdCast.

Glossário na nova edição de "A Batalha do Apocalipse" - ainda sem as páginas de referência. Clique aqui para ver ampliado.



A Queda dos Anjos by eduardospohr