sexta-feira, 30 de outubro de 2009

TUTORIAL: Como ler A Batalha do Apocalipse (não contém spoilers!)



Saudações caros leitores, nerds ou não ;-)

Em primeiro lugar, já me desculpo pela falta de atualização deste blog. Como vocês devem ter notado, foi por um bom motivo. Estas últimas semanas estivemos atarefados com o relançamento de “A Batalha do Apocalipse”. Sei que já disse isso, mas prometo me disciplinar e blogar com mais freqüência.

» Leia os primeiros capítulos
» Confira o site oficial

Bom, se você está lendo este post, provavelmente já conhece alguma coisa sobre “A Batalha do Apocalipse”, comprou ou pretende comprar (ou não). Preparei este texto como algumas orientações úteis para tornar a sua leitura muito mais agradável. Fiquem tranqüilos e podem ler até o final porque NÃO contém spoilers.

CUIDADO COM A EXPECTATIVA!

Expectativa é um problema e estraga qualquer bom filme ou livro. Como “A Batalha” ficou muito tempo fora do mercado (quase dois anos) é natural que cada um tenha a sua própria idéia sobre o romance.

Lembre-se de que uma obra nunca é exatamente igual à imagem que você idealizou. Pode ser melhor, pode ser pior... tudo vai depender do seu nível de expectativa.

» NerdCast sobre "A Batalha do Apocalipse"
» Assista a entrevista no Programa do Jô
» Saiba mais sobre a mitologia de ABdA

Portanto, por mais que eu goste do livro, sempre aconselho as pessoas a iniciar a leitura com a cabeça aberta e sem preconceitos. Quanto mais neutro você for, mais chance terá de gostar.

MODO TOLKIEN “ON”

Como assim? Eu, querendo me comparar ao grande mestre J.R.R Tolkien? Claro que não! O que quero dizer é que existem dois tipos de livros - os romances de leitura rápida (“Harry Potter”, “Código Da Vinci”, etc) e aqueles mais densos, como “Senhor dos Anéis” e “Duna”, que devem ser digeridos de forma mais concentrada.

Miguel, Ablon, Lúcifer e Apollyon. Arte: Harald Stricker

Sinceramente, acho que os dois estilos têm seu lugar. Pessoalmente, adorei poder devorar “Código Da Vinci” em uma única viagem de avião, e também amei deglutir “O Senhor dos Anéis” lentamente, passando dois meses da minha vida envolvido naquele maravilhoso universo.

“A Batalha do Apocalipse” é um livro denso. Na verdade, ele nem é assim tão longo (560 páginas), mas há muitos personagens, descrições e conceitos. Por isso, eu o aconselho a apreciá-lo sem pressa. Se você quiser ler tudo numa tacada, é provável que perca o fôlego e deixe escapar muitos detalhes e subtramas interessantes.

QUESTÕES HUMANAS

Apesar dos personagens centrais de ABdA serem anjos e demônios, este é um livro sobre questões humanas – como, aliás, acho que todas as obras deveriam ser.

A batalha do Armagedon, propriamente dita, só acontece no final. Grande parte do livro se passa na Terra, e é uma viagem pela História humana.

Nota histórica - Compreenda que este é um livro de FANTASIA, e não um romance histórico. É claro que eu fiz uma pesquisa bem apurada sobre lugares e povos, mas não me prendi religiosamente aos fatos.


Thor nos quadrinhos: linguagem épica e rebuscada
Fantasia-gótica - E, falando em fantasia, repito que ABdA está muito mais próximo aos romances fantásticos do que aos mundos de horror-gótico habitados por zumbis e vampiros, como nas séries de Anne Rice, por exemplo (que, por sinal, adoro).

LINGUAGEM REBUSCADA?

Já na época da primeira tiragem, recebi críticas construtivas sobre o excesso de palavras e termos desconhecidos usados no texto.

De fato, muitos eram desnecessários, e foram cortados na nova versão. Outros eu mantive, por uma razão: acredito que isso ajuda a criar um clima épico, nos afastando um pouco da nossa realidade cotidiana e nos inserindo em uma realidade fantástica. Era essa a sensação que eu tinha ao ler os quadrinhos do Thor, cujos personagens eram mais prolixos em suas falas.

Alguns livros portugueses que "salvaram" a minha adolescência
Português de Portugal - Outra informação, de bastidores. Sempre fui vidrado em ficção-científica e fantasia. Na minha época, lá pelos idos dos anos 80, as livrarias não eram como hoje. Quase não havia títulos fantásticos e, como eu não lia em inglês, minha salvação estava nos livros portugueses. A livraria Malasartes, no Rio, importava exemplares pocket book de Lisboa, com coleções como “Battlestar Galactica” e “Dragonlance”.

Talvez o fato de eu passar toda a minha adolescência consumindo romances escritos em português de Portugal possa ter influenciado o meu estilo. Talvez não...

RITMO
“A Batalha do Apocalipse” é recortado por uma série de flashbacks. Alguns deles são curtos; outros, muito longos. A minha sugestão é que você leia esses fragmentos como se fossem obras separadas – justamente porque cada trecho tem uma história própria, com começo, meio e fim.
Sentido de urgência - O flashback da Parte 2, em especial, é o mais longo. Nele, há uma quebra de ritmo se comparado à estrutura central do livro, do sentido de urgência observado na linha de tempo padrão. Isso é proposital e foi construído com um motivo, que será revelado na conclusão da história. Parodiando “Lost”: everything is connected”.

ACABEI DE LER, E AGORA?

Quando você terminar o romance, três coisas lógicas podem acontecer: você gostar, você não gostar ou achar regular. Em cada um dos casos, entendam o valor das suas opiniões, ainda mais hoje, na era dos blogs e das redes sociais.


Ablon. Arte de Andrés Ramos (o "Amigo Imagiário)
Aproveitem esta facilidade de comunicação que temos com a internet para me escrever, com críticas e sugestões.
Novos projetos - Se você não curtir o livro, saiba que muitos comentários feitos por quem leu a primeira tiragem me ajudaram a corrigir erros e melhorar a nova edição. Se você gostou e deseja ver novos projetos, envie sugestões.

Em todos os casos, espero sinceramente que apreciem a leitura. Esta obra foi feita para vocês e só retornou à NerdStore por conta do grande número de pedidos que recebemos.

Agora, o selo NerdBooks chega com a proposta de trazer mais títulos adequados ao nosso público. Desejem-nos sorte :-)

LINKS
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Trailer no YouTube, feito pelo fã Marcelo Diniz

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

‘O Despertar da Primavera’ – 100 anos de transgressão

Pierre Baitelli e Malu Rodrigues

Na quinta-feira, 1º, fui convidado pela Agência Frog a assistir ao musical “O Despertar da Primavera”, em cartaz no Teatro Villa-Lobos, no Rio. Embora já tivesse visto, aceitei o convite para conferir novamente a apresentação.

Você já ouviu falar da peça? Não? Então conheça. Sim? Então leia abaixo a minha opinião.

O QUE É?

“O Despertar da Primavera” foi escrita em 1891 pelo alemão Frank Wedekind, no formato de peça teatral. Encenada no princípio do século XX, foi repetidamente censurada, até ser finalmente apresentada integralmente em Londres, em 1974. O texto foi adaptado para musical e estreou na Broadway em 2006, ganhando oito prêmios Tony no ano de 2007.

Frank Wedekind (1864 - 1918)

A trama é polêmica – não à toa foi vetada em muitos teatros onde foi encenada, durante a primeira metade do século XX. Temas como masturbação, aborto, estupro, pedofilia e suicídio estão em pauta.

Em resumo, a obra fala sobre um grupo de adolescentes e suas primeiras descobertas sexuais. O cenário: uma escola da Alemanha, no final do século XIX.

NO BRASIL

A dupla Charles Möeller e Claudio Botelho foi responsável por transportar a montagem ao Brasil. De cara, isso já me deixou animado. Para quem não sabe, eles trouxeram ao Rio o espetáculo “A Noviça Rebelde”, que eu considero um marco na história dos musicais no país.


Rodrigo Pantolfo e Letícia Colin.

Assim como “A Noviça”, “O Despertar da Primavera” reúne produção e elenco impressionantes. Na verdade, eu usaria uma palavra mais forte: são inacreditáveis – porque foi justamente essa sensação que eu tive ao assistir os dois espetáculos.

Não-réplica - A versão nacional de “Spring Awakening” (título em inglês) também tem o diferencial de ser a única no mundo a ter uma montagem original, inspirada mas não absolutamente copiada do original.

MÚSICAS E ELENCO



Além da produção, o grande trunfo de “O Despertar da Primavera” são os atores. Talentosos e disciplinados, atuam, cantam e dançam com desenvoltura ímpar. Disciplina é importante. Quem assiste a um espetáculo como esse muitas vezes não tem idéia de tudo o que aconteceu até o dia da estreia. Uma peça marcada e bem coreografada requer meses de ensaio – por isso, não basta ter talento.

Revelações - Alguns jovens em cena são mais conhecidos da grande mídia, como Letícia Colin (“TV Globinho”, “Malhação”), Malu Rodrigues (“O Pequeno Alquimista”, “Didi Quer Ser Criança”) e Thiago Amaral (“Capitu”, “Meu Tio Matou um Cara”). Outros são revelações, como Rodrigo Pandolfo, Felipe de Carlois e Laura Lobo.

DC Comics ruleZ - Aos nerds, uma curiosidade. O protagonista, Pierre Baitelli, de 25 anos, que interpreta o jovem Melchior, é a figura encarnada do Coringa, inimigo de Batman. Para mim, ele se encaixaria no semblante do vilão ainda melhor do que o falecido Heath Ledger – e talento não falta.

Pierre Baitelli: o nome para substituir Heath Ledger no papel de Coringa.

Clima - A adaptação também foi feliz nas canções. A performance de atores e orquestra neste particular cria, dentro do teatro, uma atmosfera poderosa e contagiante. É precisamente este o espírito dos grandes musicais que, espero eu, comecem a se multiplicar no Brasil.

POLÊMICA: SENSUALIDADE OU VULGARIDADE?

É fácil entender o motivo de “O Despertar da Primavera” ter sido censurado por vários anos. O espetáculo contém polêmicas cenas de sexo e suicídio, e o grande desafio da direção era torná-las aprazíveis ao público. Isso é possível? É!

Na verdade, este é o grande pulo do gato do artista: saber comunicar uma determinada mensagem aos espectadores (mesmo que forte) com bom gosto e sutileza – afinal, a platéia deve ser entretida, não constrangida. Aqui, a linha entre sensualidade e vulgaridade é muito tênue.

Princípio do choque - Neste particular, a montagem nacional de “O Despertar da Primavera” perde a mão. Particularmente, eu nunca fui muito a favor do “princípio do choque” na arte, ou seja, a arte feita para impressionar. Acho que o artista verdadeiramente talentoso não precisa chocar para ter sua obra repercutida: ele precisa emocionar.

Não que “O Despertar da Primavera” não emocione. Mas diferentemente da versão da Broadway, onde as fortes cenas de sexo assumem um caráter outrora sensual, outrora cômico, no Brasil elas se tornaram agressivas (assista aos vídeos no final do post). São pequenos detalhes que fazem toda a diferença.

Explícito - A questão não é moral, e sim artística. A arte não é aquilo que é mostrado, mas aquilo que é entendido. A arte não está nas formas de uma obra, mas na maneira que interpretamos ela. Portanto, cenas explícitas devem ser usadas QUANDO essenciais à trama, e não COMO essenciais à trama.



Teste de elenco.

VALE A PENA ASSISTIR?

Estive pela primeira vez em Nova York no início da década de 80, onde fiquei hospedado nos subúrbios da cidade, numa pacata vizinhança de casas de classe média conhecida como Bronxville. Era inverno. A neve caía sem parar e a única coisa que eu e meus irmãos pensávamos era construir bonecos de neve a jogar videogame.

Neste inverno, acredite, perdi todas as oportunidades de tomar um trem e conhecer Manhattan. Dez anos depois, arrependido, retornei à Big Apple e aproveitei de montão, inclusive indo a todos os espetáculos Broadway e off-Broadway que tinha direito.

Só quem já esteve lá sabe o tipo de magia que acompanha essas produções. E é justamente isso que precisa ser incentivado no Brasil.

Para facilitar o acesso aos jovens, a peça deu início a uma promoção em que espectadores entre 15 e 22 anos pagam apenas R$ 15, todas as quintas-feiras. Para uma produção como essa, o ingresso é praticamente simbólico. Veja mais detalhes aqui.

VÍDEOS

» Despertar da Primavera – canal no Youtube
» Despertar da Primavera – Malu Rodrigues
» Despertar da Primavera – Pierre Baitelli
» Despertar da Primavera – bastidores
» Spring Awakening – apresentação no Tony
» Spring Awakening – cena de masturbação