sexta-feira, 9 de outubro de 2009

‘O Despertar da Primavera’ – 100 anos de transgressão

Pierre Baitelli e Malu Rodrigues

Na quinta-feira, 1º, fui convidado pela Agência Frog a assistir ao musical “O Despertar da Primavera”, em cartaz no Teatro Villa-Lobos, no Rio. Embora já tivesse visto, aceitei o convite para conferir novamente a apresentação.

Você já ouviu falar da peça? Não? Então conheça. Sim? Então leia abaixo a minha opinião.

O QUE É?

“O Despertar da Primavera” foi escrita em 1891 pelo alemão Frank Wedekind, no formato de peça teatral. Encenada no princípio do século XX, foi repetidamente censurada, até ser finalmente apresentada integralmente em Londres, em 1974. O texto foi adaptado para musical e estreou na Broadway em 2006, ganhando oito prêmios Tony no ano de 2007.

Frank Wedekind (1864 - 1918)

A trama é polêmica – não à toa foi vetada em muitos teatros onde foi encenada, durante a primeira metade do século XX. Temas como masturbação, aborto, estupro, pedofilia e suicídio estão em pauta.

Em resumo, a obra fala sobre um grupo de adolescentes e suas primeiras descobertas sexuais. O cenário: uma escola da Alemanha, no final do século XIX.

NO BRASIL

A dupla Charles Möeller e Claudio Botelho foi responsável por transportar a montagem ao Brasil. De cara, isso já me deixou animado. Para quem não sabe, eles trouxeram ao Rio o espetáculo “A Noviça Rebelde”, que eu considero um marco na história dos musicais no país.


Rodrigo Pantolfo e Letícia Colin.

Assim como “A Noviça”, “O Despertar da Primavera” reúne produção e elenco impressionantes. Na verdade, eu usaria uma palavra mais forte: são inacreditáveis – porque foi justamente essa sensação que eu tive ao assistir os dois espetáculos.

Não-réplica - A versão nacional de “Spring Awakening” (título em inglês) também tem o diferencial de ser a única no mundo a ter uma montagem original, inspirada mas não absolutamente copiada do original.

MÚSICAS E ELENCO



Além da produção, o grande trunfo de “O Despertar da Primavera” são os atores. Talentosos e disciplinados, atuam, cantam e dançam com desenvoltura ímpar. Disciplina é importante. Quem assiste a um espetáculo como esse muitas vezes não tem idéia de tudo o que aconteceu até o dia da estreia. Uma peça marcada e bem coreografada requer meses de ensaio – por isso, não basta ter talento.

Revelações - Alguns jovens em cena são mais conhecidos da grande mídia, como Letícia Colin (“TV Globinho”, “Malhação”), Malu Rodrigues (“O Pequeno Alquimista”, “Didi Quer Ser Criança”) e Thiago Amaral (“Capitu”, “Meu Tio Matou um Cara”). Outros são revelações, como Rodrigo Pandolfo, Felipe de Carlois e Laura Lobo.

DC Comics ruleZ - Aos nerds, uma curiosidade. O protagonista, Pierre Baitelli, de 25 anos, que interpreta o jovem Melchior, é a figura encarnada do Coringa, inimigo de Batman. Para mim, ele se encaixaria no semblante do vilão ainda melhor do que o falecido Heath Ledger – e talento não falta.

Pierre Baitelli: o nome para substituir Heath Ledger no papel de Coringa.

Clima - A adaptação também foi feliz nas canções. A performance de atores e orquestra neste particular cria, dentro do teatro, uma atmosfera poderosa e contagiante. É precisamente este o espírito dos grandes musicais que, espero eu, comecem a se multiplicar no Brasil.

POLÊMICA: SENSUALIDADE OU VULGARIDADE?

É fácil entender o motivo de “O Despertar da Primavera” ter sido censurado por vários anos. O espetáculo contém polêmicas cenas de sexo e suicídio, e o grande desafio da direção era torná-las aprazíveis ao público. Isso é possível? É!

Na verdade, este é o grande pulo do gato do artista: saber comunicar uma determinada mensagem aos espectadores (mesmo que forte) com bom gosto e sutileza – afinal, a platéia deve ser entretida, não constrangida. Aqui, a linha entre sensualidade e vulgaridade é muito tênue.

Princípio do choque - Neste particular, a montagem nacional de “O Despertar da Primavera” perde a mão. Particularmente, eu nunca fui muito a favor do “princípio do choque” na arte, ou seja, a arte feita para impressionar. Acho que o artista verdadeiramente talentoso não precisa chocar para ter sua obra repercutida: ele precisa emocionar.

Não que “O Despertar da Primavera” não emocione. Mas diferentemente da versão da Broadway, onde as fortes cenas de sexo assumem um caráter outrora sensual, outrora cômico, no Brasil elas se tornaram agressivas (assista aos vídeos no final do post). São pequenos detalhes que fazem toda a diferença.

Explícito - A questão não é moral, e sim artística. A arte não é aquilo que é mostrado, mas aquilo que é entendido. A arte não está nas formas de uma obra, mas na maneira que interpretamos ela. Portanto, cenas explícitas devem ser usadas QUANDO essenciais à trama, e não COMO essenciais à trama.



Teste de elenco.

VALE A PENA ASSISTIR?

Estive pela primeira vez em Nova York no início da década de 80, onde fiquei hospedado nos subúrbios da cidade, numa pacata vizinhança de casas de classe média conhecida como Bronxville. Era inverno. A neve caía sem parar e a única coisa que eu e meus irmãos pensávamos era construir bonecos de neve a jogar videogame.

Neste inverno, acredite, perdi todas as oportunidades de tomar um trem e conhecer Manhattan. Dez anos depois, arrependido, retornei à Big Apple e aproveitei de montão, inclusive indo a todos os espetáculos Broadway e off-Broadway que tinha direito.

Só quem já esteve lá sabe o tipo de magia que acompanha essas produções. E é justamente isso que precisa ser incentivado no Brasil.

Para facilitar o acesso aos jovens, a peça deu início a uma promoção em que espectadores entre 15 e 22 anos pagam apenas R$ 15, todas as quintas-feiras. Para uma produção como essa, o ingresso é praticamente simbólico. Veja mais detalhes aqui.

VÍDEOS

» Despertar da Primavera – canal no Youtube
» Despertar da Primavera – Malu Rodrigues
» Despertar da Primavera – Pierre Baitelli
» Despertar da Primavera – bastidores
» Spring Awakening – apresentação no Tony
» Spring Awakening – cena de masturbação

6 comentários:

  1. Quero assistir, apesar da minha namorada não ficar nem um pouco animada com musicais, principalmente adaptações brasileiras.
    Curioso pra ver esse 'substituto' do Joker (duvido muito). rs
    °°°abraços

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  2. Gostaria de assistir, pena que BH geralmente não é rota de grandes musicais.

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  3. È lá no canto superior direito!

    VOTEM NO CAPITÃO NASCIMENTO!

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  4. Eu vou ver de assistir.... quem sabe eu não me interesso??
    Você viu o musical Miss Saigon? Viu a apresentação do musical em São Paulo??
    A versão brasileira da apresentação foi totalmente fiel a história, os atores foram magnificos, cantaram e atuaram perfeitamente, a produção, pelo que ouvi de quem viu a da Brodway, foi melhor que a de la.. o helicóptero foi feito por luz na água e sons.. mas até me contarem eu acreditei fielmente que tinham pousado um helicóptero de verdade em cena.. as versões nacionais das musicas foram muito lindas... e eu chorei a peça inteira..e olha que eu não costumo me emocionar facil com obras ficticias....

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